domingo, 9 de maio de 2010

O Fim do Ferreomodelismo como o Conhecemos?

Uma das discussões mais recorrentes no meio de ferreomodelismo é a perda da relevância do hobby. As causas exatas são difíceis de analisar em conjunto, passam pelo custo, espaço requerido e chegam até mesmo no trabalho envolvido, bastante razoável (por exemplo, os modelos do Serrinha e da Heineken levaram uma semana e meia a toque de caixa). Porém, os efeitos são bem conhecidos, é difícil você ver o surgimento de novos praticantes. Culpa-se de tudo, principalmente internet e videogames nos dias de hoje, como na década de 60 deviam culpar a TV e o rock'n'nroll.

Um ponto chave, proposto por dois conhecidos recentemente, é mostrar ao jovem que há mais na vida além de videogame e internet. Verdade, há esportes, literatura, cinema, saídas no fim de semana, etc. Não cola tentar combater internet e videogame porque "atrofiam" o cérebro (opinião média dos ferreomodelistas, diga-se de passagem), porque temos dezenas de outras atividades que fariam o mesmo. É deplorável tentar travar esse combate, porque ele praticamente já está decidido e a coisa não é bonita para o meu lado ferreomodelista.

Aí entra um ponto que considerei recentemente e que a maioria torce o nariz, mas eu defendo mesmo assim. Pessoalmente acredito que o ferreomodelismo como hobby irá continuar, mas não será o ferreomodelismo como praticamos hoje. Aliás, arrisco um prognóstico de que a geração que está entrando agora talvez seja a última a praticar ferreomodelismo dessa forma, manipulando miniaturas reais. Digo isso porque o modelismo ferroviário quando criado, seja lá por quem ou onde, tinha apenas uma alternativa de reproduzir a realidade: fazendo em escala o que se via na realidade. Não existia outra maneira, era isso ou nada.

Como sou da área de computação, trabalhei com computação gráfica, realidade virtual e jogos, penso que, por mais que eu goste de modelar miniaturas, é algo que cada vez faz menos sentido. Hoje temos como reproduzir a realidade em um modelo tridimensional no computador de maneira bastante realista, com detalhes que nunca seriam possíveis nem mesmo em escalas grandes. Tem até mesmo a possibilidade de se colocar elementos ativos no cenário que nunca conseguiríamos colocar numa maquete tradicional. Na maquete tradicional os pedestres são chatos, ficam parados, como estátuas na praça. Num simulador de RV podemos fazê-los andar, esperar o semáforo/trem para atravessar e até mesmo embarcar no trem, quem sabe cumprir um itinerário casa/trabalho/padaria/casa.

Aí vem a reclamação de que "não é a mesma coisa".  Não é mesmo, nem é pra ser. Podem dizer que não dá para pegar, mas o orgulho do ferreomodelista é operar o trem sem tocar, fazendo com que ele realize as manobras da maneira mais parecida com a real. Praticamente, não haveria diferença nesse ponto numa maquete "virtual" (porque simulado até as tradicionais são). Mesmo quando diz-se que não envolve marcenaria, pintura, etc, tem o ponto de que as habilidades envolvidas são completamente diferentes. O conhecimento para manipular as ferramentas de um simulador computacional para obter um resultado excepcional é tão complexo como o para fazer uma miniatura "real". Não é porque a técnica é diferente da tradicional que ela deixa de ter valor ou ser complexa.

Nisso eu enxergo algumas possibilidades interessantes. Iniciativas como o open source e creative commons seriam uma oportunidade de se produzir conteúdo ferroviário como nunca antes visto, com esforços de colaboração grandes, dando acesso a muita gente, seja como "modelista" ou "rodador de trem". Pode parecer uma viagem minha, mas depois que lançaram o Train Simulator e o Trainz, o caminho inicial foi dado. Agora é saber como a comunidade vai caminhar, se para a extinção lenta ou para a adaptação em algo compatível com os recursos disponíveis nos dias de hoje. De quebra, poderíamos até dizer que ferreomodelismo seria um hobby "sustentável" e ecologicamente correto, afinal, um CD ou pendrive poderia levar a maquete para qualquer lugar.

3 comentários:

Bruno Sanches disse...

Sem falar que montar aquela composição de 130 vagões de minério não vai custar R$2600 só em vagões... sem falar no espaço, locomotivas, etc.

Eu acho que vai acontecer uma divisão de mundos, vamos ter os modelistas virtuais e os "reais". Acredito que o próximo passo é o surgimento de um simulador de trem multiplayer, que para mim é o maior pecado de todos eles é não podermos montar uma ferrovia virtual com os amigos.

T+

Piovezan disse...

Imagina que legal o dono de um dispositivo móvel arriscando montar uma maquetezinha básica para rodar nela uma composição de vagões virtuais, em realidade aumentada, hein... com direito até a trombada de trens virtuais sobre a maquete real :D
De resto... bom, com a bocha do meu avô também foi assim, fazer o quê. As coisas mudam. <:)

Christian Steagall-Condé disse...

REVISTA HOBBY NEWS nas bancas!

Reabrindo com o editorial de FERREOMODELISMO ESCALA HO.

Procure em sua cidade.