segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Comprando um Carro Usado em Montreal, Canadá

Como estou comprando um carro usado no Canadá, vou colocar aqui algumas coisas que vale a pena comentar, já que não vi ninguém comentando até hoje.

  1. Carteira de motorista: ao chegar no Québec, a carteira brasileira vale por 6 meses e você tem um ano para fazer o processo de troca de carteira de motorista por uma quebequense. Eles fazem você passar pela prova teórica (cuidado com sinalização, essa parte é completamente diferente da nossa) e pela prova prática (tem que fazer ângulo morto para qualquer mudança de faixa, conversão ou manobra), mas é melhor do que fazer autoescola. Faça isso no que chegar, por telefone indicado no site da SAAQ para a sua região. Eles marcam uma data na qual você abre o seu processo e já faz a prova teórica. Se passar o prazo de um ano, tem que fazer autoescola, o que você não deve querer fazer, até porque gasta.
  2. Alienação do veículo: diferente do Brasil, em que o veículo é alienado a uma dívida no Detran, no Canadá é com uma agência provincial. Então, você pode acabar comprando um carro que está dado como garantia a uma dívida e, como o sujeito pode simplesmente parar de pagar, quem perde o carro é quem comprou! No Québec, quem cuida disso é a Registre des droits personnels et réels mobiliers, custa 3 dólares a verificação por número de série de veículo. Eu escapei de um carro que tinha uma dívida com o proprietário anterior e outra com a loja em que ele estava a venda.
  3. Histórico do veículo: muitos vendedores vão dizer que o proprietário anterior era uma senhora de idade, que dirigia pouco (mas mesmo assim o carro tem quase 200.000km rodados) e que sempre fazia revisões na concessionária (mas não tem uma fatura sequer para provar isso). Mas todos vendedores, praticamente, vão dizer que o carro nunca sofreu acidente, ou, então, vão dizer que foi pouca coisa se admitirem que teve acidente. O Carproof dá um relatório completo do registro do veículo em todas as províncias canadenses, EUA, leitura de odômetro e registro de uso de seguro em acidentes. Escapei de um carro que tinha tido uma batida menor ao atropelar um bicho na estrada, de acordo com o dono, mas que pelo relatório custou 4000 dólares para consertar e no que saiu da oficina ele colocou para vender abaixo do preço de mercado, sem nem rodar 1000km com ele. Custa caro, 50 dólares, mas se você vai mesmo comprar um carro de um valor mais elevado, digamos, 5000 dólares ou mais e você quiser uma tranquilidade a mais, vale a pena (pra mim valeu). Algumas revendas e concessionárias mostram o relatório Carproof, inclusive anúncios particulares no Kijiji tem a opção de mostrar, mas depende do vendedor.
  4. Seguro: esse é controverso. A lei do Québec é bem clara, você é obrigado a ter um seguro que cubra responsabilidade civil (contra terceiros) de pelo menos 50000 dólares. Em geral, as seguradoras fazem pacotes de 1 a 2 milhões. Tem gente que fala que não é obrigatório, o que é falso (o manual da SAAQ é bem claro de que é obrigatório). O seguro do veículo, cobrindo acidentes, furtos, vandalismo, etc, esse sim é opcional e é o que deixa caro o seguro. Se for um carro baratinho, como um pau velho de 1000 dólares, certamente não vale a pena, é mais barato comprar outro do mesmo valor.
  5. Experiência como motorista no Brasil: já ouvi relatos de que as seguradoras daqui aceitam a experiência brasileira como motorista. Isso reduzira o custo do seguro. Mas, de todas que eu cotei (e foram várias, acredite), só a Belair Direct diz que poderia aceitar uma carta da seguradora brasileira que declarasse que não fez uso do seguro nos últimos 5 anos. Como disseram que "poderia" aceitar e teria o custo de traduzir a tal carta, não levo isso como algo certo e deixei de lado. Pode ser que um tempo atrás aceitassem verbalmente, como li alguns relatos, mas não foi o que eu achei aqui em 2011.
  6. Reduzindo o custo do seguro: como você parte com experiência zero, o seguro vai ficar caro. Se você for mulher, o seguro é mais em conta do que para homens (igual ao Brasil). Para um casal em que a esposa vai dirigir mais do que o homem (meu caso), deixe ela como o motorista principal. Isso no Desjardins dá uma diferença de quase 30% no preço. Também procure sempre fazer seus seguros no mesmo local, como seguro para a casa/apartamento (mesmo alugado, faça, se der alguma coisa, a culpa é sempre sua!!). Como eu tinha o seguro do apê na Desjardins, ganhei 5% de desconto no do carro e um bônus de 3% na renovação do apartamento ano que vem. Se tiver dois carros, dá desconto no segundo veículo.
  7. Concessionárias fora da ilha de Montreal: na ilha de Montreal, o custo de um terreno é alto na região central e vai diminuindo ao chegar no lado oeste/leste da ilha. Fora da ilha é ainda menor. Logo, isso impacta no custo de operação de uma concessionária (ou mesmo uma loja) e o preço de um carro usado na ilha é maior do que fora da ilha (Longueuil, Laval, Brossard, Saint Eustache, etc). No interior do Québec é ainda menor. Para carros novos o preço é a tabela do fabricante e não fica parado em estoque, então, pode comprar na loja do lado de casa sem dor de cabeça.
  8. Transferência de propriedade: a transferência de propriedade é feita na SAAQ, a Societé d'Assurance Automobile du Québec. Se for um particular, os dois vão lá e fazem a troca de documentos com o órgão oficial. Se for de um comerciante, ele dá uma autorização para a troca da propriedade, junto com o documento endossado pelo proprietário anterior. 
  9. Se puder, empreste/alugue um carro:  eu não tive nenhuma dificuldade prática para chegar em nenhuma revenda de carro que visitei. Mas algumas levavam mais de uma hora em transporte público. Para Saint Eustache, eu levei quase duas horas de metrô e ônibus metropolitano. Para não perder o dia vendo um ou dois carros, tente pegar um carro, a Discount Rent a car é barata.
  10. Garantia:  um carro mais novo pode ainda estar na garantia do fabricante (Kia dá 5 anos ou 100000km, por exemplo). Fora disto, lojistas são obrigados a dar garantia a carros, com até 5 anos com menos de 80000km, de 1 mês ou 1200km, o que vier antes. Difícil é achar um carro com menos de 80000km, tem gente que roda aqui na base dos 30000km por ano. Particulares não são obrigados a dar garantia.
  11. Preço: o preço de um carro varia de acordo com o ano de fabricação e a rodagem. Na mesma concessionária/loja, carros do mesmo fabricante podem ter preços diferentes, por mais que sejam do mesmo ano. Pior, um carro mais velho, mas menos rodado, pode valer mais que um mais recente, porém mais rodado. 
  12. Correia dentada: boa parte dos motores de 4 cilindros e alguns V6 (Kia, por exemplo) usam correia dentada. Algo que se arrebentar, trava o motor e, aqui, pode tornar o conserto (retífica, troca de pistão entortado, etc) mais caro do que uma troca de motor. Normalmente é trocada a cada 4 ou 8 anos (de acordo com o fabricante) ou em torno de 90000/100000km rodados, o qeu vier antes. Vários motores usam corrente no lugar da correia, que não arrebenta, então, é uma dor de cabeça a menos, já que a troca dela custa em torno de 1000 dólares (correia, rolamento, tensor e mão de obra) e dois dias de oficina. Se a oportunidade for boa e o carro tiver correia dentada, veja se ela foi trocada recentemente, já que muitos bons carros usam esse tipo de peça.
Pelo menos não lembro de ter visto esses comentários em lugar algum. Outras coisas como inspecionar bem o carro, ver ferrugem, etc, tem em outros lugares e não vale se repetir mais uma vez. Um desses lugares é esse post na comunidade Brasileiros em Montreal. A única furada dele é no seguro (confusão na redação), vale lembrar de que é obrigado o seguro contra terceiros.