segunda-feira, 19 de abril de 2010

Kick Ass

Disclaimer: não gosto de quadrinho americano, com raríssimas exceções. Acho o traço feio e, em particular, não me atrai o modelo de roteiro atrelado a um modelo de negócios limitador. Dito isto ...

Li neste fim de semana o quadrinho Kick Ass, série em 8 parte de Mark Millar e John Romita Jr. De longe, o melhor quadrinho que eu encontrei nos últimos tempos. A estória se passa em torno de Dave Lizewski, um zé ruela normal que decide fazer justiça com as próprias mãos e se veste como super-herói. Só que é um super-herói diferente. Seus pais não foram mortos por bandidos, ele não foi picado por uma aranha radioativa e nem mesmo ele é um exilado de um planeta condenado.

Ao invés de punir os vilões com punhos de aço, são punhos de aço alheios que o mandam para o hospital. Passagem na qual ele ganha os únicos "poderes" dele, um reforço de platina nos ossos e três placas de metal na cabeça. De resto, Kick Ass, alter-ego de Dave, é tão herói como um sujeito de cosplay numa convenção de quadrinhos.

Mesmo assim, Kick Ass vira uma celebridade por fazer do jeito que dá a sua rotina de herói. E é nesse ponto que o roteiro deslancha de vez. Como todo super-herói, Kick Ass tem seus pares, centrados em Red Mist e a dupla Hit-Girl e Big Daddy, uma menina de 10 anos e seu pai super-protetor. Apesar de secundária, Hit-Girl acaba sendo o destaque desta primeira série de Kick Ass, seja pela atitude (boca-suja) que impressiona os seus inimigos, ou pela habilidade como máquina de matar, tudo isso numa menina de apenas 10 anos. O que é um contra-ponto interessante, já que o Dave não consegue fazer 1/5 do que ela faz.

Claro, todo herói tem seus vilões e os delinquentes de rua à máfia de Nova Iorque caem como uma luva numa estória de heróis pautada nos limites do que seria plausível no mundo real. Como o Kick Ass é um herói sem maiores poderes, outros começam a imitá-lo, o que desperta no Dave a sensação de realização a inveja, como quando o Red Mist fica mais conhecido do que ele. E é nessa hora que o quadrinho é interessante, porque o lado super-herói é necessário, mas ele é pano de fundo para a fase pela qual o personagem passa de auto-afirmação e crescimento. Por mais que ninguém em perfeito juízo vá fazer o que o Dave faz, certamente há um eco com a geração de jovens que irá ler o quadrinho.

Mergulhado em referências pop e de quadrinhos, a série não esconde em nenhum momento de que bebe em fontes como outros quadrinhos (Homem-Aranha, Batman, Super-Homem, etc), séries de TV (Heroes), jogos (Hit-Girl e Big Daddy? Que tal Hitman e Bioshock?), etc. Nessa hora que ela tem um papel semelhante a "O Diabo Veste Prada". Ao mesmo tempo em que ela destrói tudo o que há de dogma no mercado de quadrinhos, ela reafirma o mercado e se apresenta como elemento catalisador, o produto de tudo o que veio antes dela e parte de um fluxo maior.

Claro, como tudo o que faz sucesso, foi produzido em conjunto um filme que estreou na semana passada, dirigido por Mathew Vaughn (Stardust) O filme foi bem de crítica e de bilheteria, já tendo previsão de estrear por aqui em Junho. Até lá, fiquem com o trailer dele ou leiam o quadrinho. Apesar do desenho feio, a estória vale a pena.

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