Para que o blog não vire simplesmente uma referência sobre vinhos, vou começar a falar sobre outro hobby meu, mangás. Aqui em Montreal ler mangás é bem acessível, nem tanto pelo preço, mas pela biblioteca central do Québec ter uma seção de quadrinhos enorme, contando com várias prateleiras de mangá. Tanto em francês como em inglês. Acesso a cultura é isso.
Um que eu li recentemente é o Ethnicity 01, de Nobuaki Tadano. O cenário é uma distopia pós-apocalíptica na qual humanos vivem em Sensoram, uma cidade reduzida e extremamente controlada. Todos cidadão são monitorados por assistentes pessoais, os e-Pets, designados para guiá-los no seu dia-a-dia e a tomar decisões que mantenham a ordem do local. É neste cenário que a protagonista principal, Niko, conhece Astha, um infiltrado das zonas brancas, áreas para os exilados de Sensoram.
Exilada por traição (involuntária), Niko acaba descobrindo a verdade sobre a razão de existirem as zonas brancas, como elas conseguem se manter sem nenhum recurso especial e da sua função para a manutenção de Sensoram. Tem todo um cenário com grupos revolucionários e algum mistério com as motivações de alguns personagens. O mangá tem uma boa premissa e consegue segurar bem nos seus três volumes (na medida), mas é certo que ele era planejado para ser um pouco mais longo e foi encurtado.
A parte final do mangá, em que as revelações são feitas e conhecemos Ethnicity 01, é coerente, mas fica uma sensação razoável de previsibilidade. É difícil ver a solução encontrada para resolver como algo difícil de se imaginar, ou, pior ainda, como o responsável parcial por ela não pensou nisso antes. Eu diria que é satisfatório, mas com certeza não aproveita todo o potencial do cenário construído nos dois volumes anteriores.
Em parte o mangá é uma oportunidade perdida de uma boa ficção científica que provavelmente enfrentou uma decisão editorial difícil no final do segundo volume. Mas responsabilidade é do autor em si, tendo lido o 7 Milliards d'Aiguilles (7 Bilhões de Agulhas) fica a impressão que o Nobuaki Tadano tem boas ideias, mas rola um bloqueio na hora de desenvolver e encaminhar a conclusão. Pessoalmente, gostei mais de Ethnicity 01 e provavelmente não reclamaria de ler outro mangá dele. Da biblioteca, claro.
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